terça-feira, 10 de outubro de 2017

Percepções de um doutorado na metade do doutorado




Oi pessoal,

Estou sumida do blog, eu sei, mas como todos sabem, quando você começa o doutorado é como se você entrasse numa caverna.. e quando sai, sai com aquele aspecto de ser albino se arrastando, quase um troglóbio, só que tedioso... rsrs! Brincadeira..


Venho aqui jogar minha impressão sobre esse tal de doutorado em Ecologia e Biodiversidade, estando na metade dele.
Quando eu me matriculei, me matriculei toda feliz. Eu tinha sobrevivido ao limbo. Eu ia ser ecóloga! Eu ia ter bolsa! Eu tinha chances de ter bolsa FAPESP loguinho, era só escrever o projeto! Eu ia mudar de área de pesquisa, uhu! Eu ia ser multidisciplinar e holística, e ajudar as pessoas a prever áreas que terão hantavirose..
Só que aí de pouco em pouco vieram os "choques de realidade":
-O que quer dizer ser Doutora Ecóloga, se você não tem perspectiva de emprego? Acho que quer dizer ser pós doc por pelo menos seis anos!
-Eu entrei no doutorado sem bolsa.. Me matriculei dia 13 de Março de 2015 e só fui receber alguma coisa da CAPES em Outubro de 2015! Isso foi bem brochante! De verdade, eu passei em primeiro lugar na prova e o que eu ganhei (além de PARABÉNS de um professor do programa), foi NADA. Ou seja, se você quer fazer doutorado, lembre-se, você não é especial*, nem se você passou primeiro lugar.. quem dirá nos lugares subsequentes! Coisas desse tipo te ajudam a entrar numa crise da vida adulta de cara. Não é mimimi, é sentir-se o que se é.
-Eu não tive chance de ter FAPESP loguinho. Minha FAPESP só chegou na conta em Julho de 2016! A morosidade da revisão do projeto é outra coisa bem brochante. Isso quer dizer que o projeto tem que ser parido antes de se iniciar a matrícula no doutorado (ciência preventiva da crise!) para que você seja fomentado de acordo durante todo o processo (ou boa parte dele). Nessas horas eu penso que se eu tivesse filho pra cuidar, ou o leitinho dele, ou a minha carreira acadêmica estariam comprometidos! Ainda bem que nessa época eu tive ajuda da minha vózinha que se foi (te amo vó!) e dos meus pais. Sem isso, sem chance. 
-Eu ia mudar de área de pesquisa, ser holística e útil: Acho que isso foi a única coisa que manteve a "chama" acesa no doutorado. Ou seja, eu mesma e minha vontade de aprender. Me senti muito desafiada a conduzir o projeto que eu construí junto com meus colaboradores. Enfatizo que mudar de área de pesquisa exige muitíssimo do aluno.
Dificuldades a parte, teve também a parte super boa: EU TINHA TEMPO! Nestes dois anos de doutorado, eu fiz uma PORRADA de coisas legais. Quando eu olho para trás eu fico muito feliz, pois evoluí demais pessoal e academicamente. Deu tempo de iniciar e terminar um monte de trabalhos paralelos, conhecer gente de todo o lugar (desde Finlândia até Nova Zelândia) e pensar junto com grandes pesquisadores que eu admiro.
A única coisa que eu diria pra Renata do passado– e para vocês leitores aspirantes a um doutorado– é pra não ter expectativas de bolsa e de acolhida no PPG (Programa de pós graduação). Do resto, eu diria "Você está no caminho certo".
O tempo passou, e aí eu cheguei na metade do curso... e vi que eu tinha começado todos os capítulos do doutorado, mas todos eles ainda eram amorfos. Então agora eu desci com os projetos paralelos para um nível de dedicação basal e estou de fato fazendo meu doutorado. Com isso estou sendo forçada a aprender a dizer não, e eu sou péssima em dizer não! 
Em relação a ganho de tempo, preciso ressaltar que seguir o conselho do meu orientador e também meus guts de não incluir atividades de campo no meu doutorado foi o que me permitiu avançar na multidisciplinaridade do meu projeto, sistemas de informação geográfica, estatística, projetos paralelos e atividades DE ENSINO! Atividades de Ensino me alegraram muito durante o doutorado. Micharias ganhadas pela bolsa didática a parte, o fato das bolsas “tapa buraco” existirem e estarem super frequentes na UNESP me permitiu ser DOCENTE de alunos da Biologia, os quais eu adorei! Isso me permitiu ter certeza de que amo ser professora e acho que até sou boa nisso. Desejo muita força pros bolsistas didáticos, e que eles sejam mais valorizados, tanto no quesito financeiro quando no quesito status social.  
Por fim, espero que lendo isso, você que quer fazer um doutorado em Ecologia ou áreas relacionadas, esteja previnido e consciente da falta de bolsas nos PPGs. Lembre-se dos seus sonhos e pondere se fazer doutorado vai te ajudar a conquista-los.
Boa caminhada para você!
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*Essa parte pareceu cruel, mas o mundo do trabalho é por aí mesmo. É importante lembrar que na vida acadêmica, o retorno é principalmente em forma de prestígios (incluindo chocolate). Parafraseando o Pantaneiro, que gentilmente revisou este post, nós pós-graduandos somos especiais sim, fazendo parte de uma parcela muito pequena da população que se dedica à Ciência e ao conhecimento. Mas ninguém (ou raramente alguém) vai te dizer isso na universidade, portanto a autoconfiança tem que estar sempre em dia. Apesar de ninguém dizer que você é ótimo nesse meio com tanta frequência, suas conquistas falarão por você. Seus feitos te precederão. O fato de seus alunos aprenderem ou irem com vontade de aprender na sua aula, seus cursos nos congressos serem sucesso e seus artigos serem citados é uma forma de reconhecimento louvável. E por fim, o fato de não ter bolsa para todo mundo é uma falha no sistema, não do aluno. Mas como melhorar isso é assunto para outro post..


Um comentário:

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